O que aprendi com o livro “Coaching Agile Teams” da Lyssa Adkins

IniciaGP por Dani Gomes
5 min readMar 31, 2021

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Fonte: Amazon

“O que é, realmente, ser um agile coach? O que isso significa pra mim? O que mais eu deveria adquirir? O que eu deveria deixar?”

(Adkins, L. Coaching Agile Teams, 2010)

Assim começa o livro que me inspirou a escrever este texto. Até então eu não tinha escrito textos específicos para falar sobre livros, mas este, em especial, merece um texto só para ele. Primeiro, porque eu levei meses para terminar de lê-lo (o que, para mim, é meio que normal, porque eu leio devagar), segundo porque é um livro que, na minha opinião, todo mundo que está migrando, de qualquer área para agile coaching, deveria ler.

Quem acompanha o blog já sabe, eu fui gerente de projetos, PO, brevemente Scrum Master e em seguida me tornei agilista. Por mais que, para alguns, o caminho de gestão de projetos para agilidade pareça um caminho comum, existem mudanças de comportamento e mentalidade que são difíceis de promover, mas extremamente necessárias para se tornar “agilista” de fato. E algumas dessas mudanças, eu só me dei conta de que precisava fazer quando comecei a ler o livro, já que eram comportamentos tão “normais” para mim que eu simplesmente não percebia que eram “contra” os princípios da agilidade. Até hoje eu me pego com alguns desses comportamentos. É uma mudança profunda e complexa, que não acontece do dia pra noite. E por que eu estou falando sobre isso? Para quem não sabe, a autora deste livro, Lyssa Adkins, também fez esse caminho, ou uma versão dele, já que saiu do comando e controle da gestão de projetos para agilidade (Scrum), talvez por isso me identifiquei tanto com o livro e fiz questão de não abandoná-lo. Nele, a autora fala sobre os desafios de migrar, tanto de gerente de projetos para agilista (baseado na própria experiência dela) quanto de outras áreas para agilidade (p.ex. líder técnico para agilista) e, embora o livro seja bem focado em Scrum, tem muita coisa que se aplica para agilistas que trabalham com outros frameworks ou métodos.

Foi um dos livros que mais me ensinou e, entre os principais aprendizados que tirei do livro, estão:

  • É muito mais sobre mudança de mentalidade e, consequentemente de comportamento, do que usar outras técnicas e práticas: quando eu comecei a ler este livro eu já estava há alguns meses trabalhando como agilista. Eu já tinha aprendido muitas ferramentas, técnicas, métodos e práticas novas, algumas diferentes outras similares ao que eu usava na gestão de projetos. No entanto, ainda tinha muitos resquícios de comando-e-controle no meu trabalho. Isso porque era o que eu estava acostumada a ter este comportamento e, simplesmente não me dava conta de que isso não era ágil, isso não era dar autonomia aos times. Eu tive que aprender (e ainda estou em processo de aprendizagem) a controlar menos. Eu tive que aprender que, em alguns momentos, é preciso deixar que as pessoas errem para que elas aprendam e passem a fazer “do jeito certo”, e não porqueeu disse que tinha que ser assim, mas porque elas entenderam a importância de fazer de determinada forma. Sem dúvidas, essa é a lição mais dolorosa que eu tirei deste livro.
  • Saber ouvir é mais importante do que ter o que falar: como boa geminiana que sou, eu gosto de falar e gosto que as minhas ideias sejam ouvidas e que promovam mudanças. No entanto, como coach do time é muito importante que eu tenha paciência, que eu dê voz a quem não tem, que saiba escutar e que dê espaço para que os membros do time exponham suas ideias e opiniões. Outra lição, muito importante, que o livro me trouxe é que alguns minutos de silêncio, por mais que sejam desconfortáveis, podem ser o “empurrão” que as pessoas precisam para expor suas ideias (eu já testei, isso funciona na prática).
  • O porquê precisa estar claro: é preciso clarificar para os membros do time porque fazemos o que fazemos; porque temos determinadas cerimônias, porque usamos o método ou frameworks ou técnicas que usamos, qual é o propósito de cada coisa. Não dá pra assumir que as pessoas sabem, elas podem não saber, e tudo bem. Parte do papel do agile coach é deixar claro os motivos e objetivos do que fazemos em termos de processos e eventualmente treinar as pessoas — formal e informalmente.
  • Entender meu papel em relação ao dono do produto: até começar a leitura deste livro, confesso que não estava muito claro para mim até onde ia meu papel como agile master em relação aos Product Managers, um exemplo claro disso, é que, pelo menos mensalmente eu fazia 1:1 com cada membro dos times, mas não fazia com os PMs . No livro, fica claro que somos “parceiros” na liderança do time, cada um com um foco (dono do produto focado em resultado e no cliente, e agilista focado em processos e eficiência) e que eu posso, independente de cargos e funções, ajudá-lo a se desenvolver no seu papel, através de coaching, mentoring e treinamentos.
  • Evitar “triangulação”, promover resolução de conflitos aberta (colocar as pessoas para se falarem): essa foi uma lição dura também, mais de uma vez eu tentei resolver os conflitos eu mesma, sendo a terceira parte que tentava resolver e vi que claramente isso não funciona. A o invés de tentar resolver os conflitos pelos outros, preciso ajudá-los e incentivá-los a resolvê-los eles mesmos, no máximo, ser a mediadora em uma situação que requeira esse papel.
  • Ninguém começa perfeito, em alguns momentos você falha (e tudo bem), o mais importante é você aprender algo com isso: posso identificar vários momentos, passados e presentes em que falhei com agilista. Ninguém gosta de ficar falando sobre onde errou, no que errou, porque errou e nem é preciso, o mais importante é identificar esses momentos, analisá-los de forma “distanciada” e pensar sobre o que deveria ter feito diferente. Em oportunidades futuras posso tomar ações diferentes para obter melhores resultados.
  • Esta é a minha jornada: por fim, mas não menos importante, esta é a minha jornada, sou eu quem a estou construindo, os mentores e as referências (como este livro) são importantes, mas não são eles os responsáveis pela minha jornada, eu sou. Ter clareza sobre isso é muito importante pois evita armadilhas como a zona vermelha (Tamm, J. W., Luyet, R. Radical Collaboration, 2004) e a vitimização em relação aos outros, ao time, ao PO, ao mercado etc.

E você, qual livro tem para indicar para quem está começando na carreira em agilidade?

Para ler o livro (em português), clique aqui.

Para ouvir (em inglês), clique aqui.

Originally published at https://iniciagp.blogspot.com.

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Blog sobre carreira em gestão de projetos e agilidade para quem ainda está começando nessa jornada.

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