F4P card como forma de aplicar a melhoria contínua aos treinamentos corporativos
Neste artigo trarei um pouco da minha experiência com o F4P card, uma pesquisa, proposta pelo framework fit for purpose, e como essa prática foi útil para melhorar continuamente os treinamentos de agilidade e torná-los mais encantadores para (e adequados ao propósito das) pessoas colaboradoras.
O problema
Quando você trabalha em uma área relacionada à treinamento e desenvolvimento de pessoas pode ser difícil ter métricas que lhe digam se você está ou não indo bem. Geralmente indicadores como: quantidade de participantes, treinamentos por pessoa ou mesmo NPS são utilizados, mas, na minha percepção, nenhum desses indicadores me trazia informações importantes como “por quê as pessoas escolhiam participar desses treinamentos?” e “o quanto esses treinamentos atendem (ou não) ao propósito delas?”. Foi aí que eu decidi buscar outras abordagens que pudessem me ajudar. Como estudo método Kanban há algum tempo, já tinha ouvido falar em F4P card e já tinha sugerido, em experiências anteriores, que meus PMs (product managers) usassem a abordagem para entender melhor o que os clientes tinham de propósito em relação ao produtos ou serviços que os times entregavam. Pensei que talvez fosse a hora de eu mesma testar essa prática.
A solução
Criado por David Anderson e Alexei Zheglov, o fit for purpose, usualmente representado pelo acrônimo F4P, é um framework que combina abordagens narrativas e baseadas em dados para identificar segmentos de clientes, seus critérios de escolha e avaliar a adequação do produto ou serviço ao propósito daquelas pessoas clientes, sendo que também pode ser usado para entender e atender melhor as pessoas clientes e encontrar quem são as clientes certas para atender (para saber mais leia: https://www.fitterforpurpose.com/).
Já o F4P card é uma ferramenta, uma pesquisa, que faz parte do framework fit for purpose, e é utilizada especificamente com o objetivo de identificar 3 (três) pontos principais sobre os clientes: (1) qual era o propósito da pessoa cliente ao comprar aquele produto ou serviço, (2) o quanto o produto ou serviço atendeu aquele propósito e (3) o que poderia ser feito para que o produto ou serviço fosse (ainda mais) adequado ao propósito da pessoa cliente.
Lembrando que, como estamos falando de treinamentos, alguns conceitos precisaram ser adaptados, especialmente o ponto de ‘comprar produto ou serviço’, que era traduzido como ‘inscrever-se para o treinamento’.
Além disso, dado que optamos por seguir com o F4P card como forma de avaliação dos treinamentos aplicados, o primeiro passo era como transferir isso para um formato que fosse simples para os participantes. Optamos por utilizar um formulário virtual, anônimo, com as 3 perguntas propostas pelo modelo, com as adaptações acima mencionadas e, a cada treinamento, pedíamos feedback dos participantes através deste formulário.
O resultado
Um dos primeiros desafios foi entender que propósito não era um termo comum para os nossos ‘clientes’, nos levando a adaptar e colocar sinônimos que deixassem mais simples o entendimento (p.ex. trocando ‘propósito’ por ‘objetivo’).
Outro desafio que encontramos era a baixa adesão das pessoas. A Andressa Chiara fala (em um podcast que eu não achei, mas se você souber qual é, coloca nos comentários, por favor) que “a quantidade de respondentes não é o mais importante, mas a qualidade das respostas”, ou seja, o que podemos fazer com as respostas obtidas. No entanto, minha percepção é que ter uma média de 50% ou menos de pessoas respondentes é relativamente baixo levantando, inclusive, algumas hipóteses: (1) as pessoas participantes não gostavam dos treinamentos e por isso não respondiam (com ‘medo’ de prejudicar), (2) as pessoas participantes adoravam os treinamentos e por isso não respondiam (tinham receio de serem redundantes) ou (3) as pessoas participantes eram indiferentes aos treinamentos. Infelizmente, como optamos por fazer formulários anônimos, não conseguimos validar nenhuma dessas hipóteses. No fim, para esses 50% só sabíamos que as pessoas ‘consumiram’ os treinamentos (e algumas os indicavam para outras pessoas), mas não sabíamos o motivo e nem o quanto atendíamos (ou não) esse motivo.
Para as pessoas que respondiam (outros 50%), no grande maioria, tiveram seus propósitos (basicamente, identificamos três: aprendizagem prática, relembrar conceitos e conhecer iniciativas de outras áreas) atendidos ou plenamente atendidos, o que foi refletido em 90% de F4P ao longo do período avaliado, além das diversas sugestões de melhorias que fomos aplicando no decorrer do tempo (p.ex. diversificação de temas, inclusão de dinâmicas, foco em aplicação prática e menos teoria, etc.). Ou seja, para os treinamentos de agilidade, foi o F4P card que permitiu que entregássemos treinamentos, cada vez mais, adequados às necessidades de aprendizagem e desenvolvimento das pessoas colaboradoras.
E você, já usou o F4P card na sua empresa? Quais foram os benefícios? Conta pra gente, nos comentários, como foi!