Desconstruindo a agilidade: lições do Guia Politicamente Incorreto da Agilidade

IniciaGP por Dani Gomes
4 min readOct 20, 2024

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Capa do livro “Guia Politicamente Incorreto da Agilidade”, de Juliano Ribeiro, Rodrigo Yoshima e Rodrigo Oliveira
Capa do livro “Guia Politicamente Incorreto da Agilidade”, de Juliano Ribeiro, Rodrigo Yoshima e Rodrigo Oliveira

Se você está buscando as respostas sobre o que é melhor ou não fazer para “implementar” agilidade na sua empresa, este texto NÃO É PARA VOCÊ.

No entanto, se você busca refletir sobre a forma como “faz agilidade” na empresa onde trabalha, convido você para ler este artigo.

Quando comecei a ler o livro Guia Politicamente Incorreto da Agilidade, de Juliano Ribeiro, Rodrigo Yoshima e Rodrigo Oliveira, sabia que estava prestes a confrontar muitas das minhas crenças sobre agilidade. O livro não se preocupa em entregar um passo a passo sobre o que fazer ou como aplicar métodos ágeis. Pelo contrário, ele questiona e desafia o que muitos acreditam ser “o jeito certo” de ser ágil.

Neste artigo trarei alguns aprendizados e reflexões que tirei da leitura, espero que você também possa tirar suas reflexões e questionamentos desta leitura!

O agile está em crise

“O Agile está em crise — e o primeiro passo para solução de qualquer crise é reconhecer que o problema existe” ​(Ribeiro et al., 2023)

Esta citação me fez refletir profundamente sobre como, ao longo do tempo, o termo “agilidade” foi diluído. No ambiente corporativo, vemos práticas ágeis sendo aplicadas de forma superficial, sem uma real compreensão do porquê ou do valor por trás delas. Na minha experiencia trabalhando com agilidade, em diferentes contextos e empresas, percebo que muitas vezes o problema não está na ferramenta ou no framework escolhido, mas na expectativa irreal de que a simples adoção de um processo trará resultados milagrosos.

O trabalho intelectual é desesperador para gerentes

“O trabalho intelectual (…) é exercitado dentro da mente das pessoas (…) e isso é desesperador para qualquer gerente” ​(Ribeiro et al., 2023)

A agilidade, nesse contexto, é sobre como conseguimos organizar e canalizar o trabalho intelectual, que é invisível e imprevisível. Trazendo para a minha experiência prática com times multidisciplinares, muitas vezes vi gestores tentando controlar o incontrolável, aplicando pressão para resultados rápidos sem considerar a complexidade do trabalho criativo e inovador, o que mais gera frustração e pressão do que resultados sustentáveis de fato.

Pressão e estresse não são sinônimos de produtividade

“Sprints têm um problema sistêmico grave: pessoas constantemente sob pressões de prazos, especialmente aqueles impostos de forma artificial, sofrem de estresse e outras sobrecargas no seu aparato cognitivo”​ (Ribeiro et al., 2023)

Em um contexto em que as pessoas do time se dedicam a trabalhar 100% do seu tempo em um time ágil, com baixa maturidade ágil, o Scrum é a prática que faz total sentido. No entanto, em contextos em que as pessoas possuem múltiplas prioridades, atribuições e papeis diferentes em projetos e iniciativas diferentes, os prazos podem não respeitar a realidade do time e da organização, o que resultando em frustração e baixa produtividade.

O problema das práticas incompatíveis com a cultura

“A principal causa das implementações ágeis falharem: forçar práticas incompatíveis com a cultura”​ (Ribeiro et al., 2023)

Essa citação trouxe uma reflexão importante para mim, especialmente em projetos que envolvem profissionais e áreas que não estão habituados a trabalhar com abordagens ágeis. A adaptação das práticas à cultura local é crucial, mas deve manter suas premissas fundamentais de colaboração, geração de valor e níveis de autonomia claros, caso contrário, pode não fazer sentido apenas impor Scrum ou Kanban. Outro ponto que refleti aqui é sobre o quanto as organizações e as pessoas em cargos de gestão estão realmente abertas para mudar sua forma de pensar, se comportar e agir para criar ambientes realmente ágeis, colaborativos e abertos.

O burnout e a agilidade

“O burnout é a maneira da natureza dizer que você tem agido mecanicamente e sua alma partiu”​ (Keen apud Ribeiro et al., 2023)

Em ambientes altamente politizados e regulados, onde o estresse já é uma constante, percebi que práticas ágeis mal aplicadas podem aumentar essa sobrecarga nas pessoas. Adotar abordagens ágeis de forma reflexiva e adaptada ao ritmo do time é uma das minhas maiores lições nesses contextos.

Fluxo ágil vs. processo ágil

“Um ambiente é ágil porque possui um fluxo ágil, não porque segue um processo com nomenclaturas ágeis” (Ribeiro et al., 2023)

Essa é uma lição que também aprendi ao longo dos anos e que busco reforçar em minhas práticas. Agilidade não é sobre seguir um framework, mas sobre garantir que o fluxo de trabalho seja contínuo, adaptável e voltado para entregar valor e para atender aos propósitos dos clientes.

Conclusão

O Guia Politicamente Incorreto da Agilidade é mais do que uma crítica à algum método em específico (embora isso seja feito, ainda que de forma sutil) é uma provocação ao pensamento crítico e questionador, ao mesmo tempo que trazendo a tona a essência da agilidade. Os autores trazem que a verdadeira agilidade é adaptável e deve respeitar as complexidades de cada ambiente.

Uma dica, para quem está começando no mundo da agilidade: não se apaixone pelos métodos, práticas e certificações, mas sim pelos resultados que eles podem gerar quando aplicados com consciência, consistência e de forma incremental e adaptativa.

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Written by IniciaGP por Dani Gomes

Blog sobre carreira em gestão de projetos e agilidade para quem ainda está começando nessa jornada.

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